
O 50º Congresso, realizado entre os dias 4 e 8 de julho de 2007, alterou a rotina da Universidade de Brasília (UnB). “Durante quatro dias foram realizados 12 debates, 18 grupos de discussão e 2 seminários. Na quarta-feira uma sessão solene do Senado Federal homenageou os 70 anos da UNE. Na quinta, a mesa de abertura reuniu lideranças dos movimentos sociais que reafirmaram a unidade com a luta dos estudantes”.(texto retirado do site do 50º Congresso).
Nosso grupo esteve presente em todos os momentos do congresso, desde as primeiras discussões sobre os temas abordados à eleição de delegados, nos debates e seminários realizados e marcando presença também nas plenárias, onde foram aprovadas as deliberações da UNE para a próxima gestão, presidida por Lucia Stumpf.
Portanto, foi a partir da presença nos espaços de discussão que elaboramos esse relato com propriedade sobre nossas impressões acerca do congresso, seus pontos positivos, que infelizmente não são muitos, negativos e sobre nossas “propostas” de melhoria para os próximos congressos.
O 50º Congresso da UNE trouxe como diferencial a qualificação do debate político e da participação asseguradas pelo novo modelo de tiragem de delegados, eleitos por universidade e não mais por curso, criando um debate saudável entre estudantes de todos os cursos da universidade e pelos seminários e grupos de discussão que ocorreram nos primeiros dias do congresso abordando os mais variados temas atuais tanto para os estudantes como para a sociedade em geral. Nos Congressos anteriores – 2003 e 2005 – quase não houve espaços de discussão e quando estes existiam os estudantes tiveram pouquíssimas oportunidades de fala, ou seja, participação passiva e não ativa.
No entanto, considerando o aumento da participação ativa dos estudantes, não podemos deixar de comentar os pontos falhos deste congresso. Os debates foram gravemente enviesados de acordo com a maneira como foram conduzidos.
Não obstante à seleção do direito à fala dos estudantes pelos organizadores, as palestras foram em sua maioria executadas por membros da nossa elite política ou da nossa elite “artística”, em quase nenhuma das mesas, pasmem, houve a presença direta de estudantes nas mesas, colocando em duvida até mesmo o propósito do Congresso (estudantil).
Além disso, nos espaços de discussão houve pouco movimento. Os estudantes e demais “ouvintes”, em vez de propor idéias, usaram constantemente dos espaços de fala para fazer propaganda desta ou daquela corrente, direcionando todo o congresso apenas para a eleição da nova diretoria, não compreendendo que a disputa política se faz no convencimento com idéias e na ação. O papel de formação de conhecimento e de opiniões do Congresso foi novamente relegado à segundo, senão terceiro ou quarto plano.
O ato, realizado na tarde do dia 6, sob o titulo "Brasil - Verás que um filho teu não foge à luta - Romper as amarras do desenvolvimento, por mudanças na política econômica!". Primeiro, nem de longe atingiu a participação dos dez mil estudantes esperados; segundo, travando batalha apenas com a esfera do econômico, sem considerar implicações políticas, o ato tornou-se fraco e não atingiu o propósito maior dos estudantes de combater as políticas neoliberais como um todo.
Nossas criticas também se referem à estrutura do Congresso. Alguns espaços foram cancelados por falta de coordenadores de mesa ou por falta de quorum, principalmente os grupos de discussão, esvaziados por serem à noite. A ausência de relatoria nas mesas também é um ponto a se questionar: como saber o que foi de fato discutido e até mesmo esclarecido e acordado se não houve relatoria dos debates? Ainda em relação à estrutura, criticamos o Congresso pelo tardar das festas, que obviamente prejudicou o andamento das atividades matutinas, por vezes com até uma hora de atraso.
Houve, mesmo com os espaços de discussão, pouca convivência de forças diferentes devido à disposição dos alojamentos por força. Vale lembrar também que aos membros da força majoritária (Bloco na Rua - UJS) foram assegurados os melhores alojamentos, mais confortáveis e pertos do campus da UnB. Ainda no tocante às forças, constatamos que só as forças deliberam, e a grande maioria dos estudantes na verdade nem sabe o que se passa e no que vão votar nas plenárias; apenas seguem os “líderes” – movimento estudantil de torcida organizada – fortalecendo assim a situação.
O transporte também não foi dos melhores. As demais forças, opostas à majoritária, não tinham o transporte assegurado pelos organizadores e devido à distância de seus alojamentos do campus não puderam participar das atividades realizadas à noite, por exemplo, as festas e os grupos de discussão.
Em relação às plenárias, ocorrida nos dois últimos dias do Congresso, as criticas são muitas e as mais variadas. Primeiro, devido à acústica do Ginásio, não se ouvia quase nada. Segundo, os dois telões localizados ao lado da mesa central, virados especialmente para a força majoritária, não propiciaram visão alguma do que deveria ser transmitido. Além disso, não tivemos um acesso real à maioria das propostas (apenas invisivelmente nos telões), ou seja, não dava pra saber no quem estava votando. A votação dita secreta foi totalmente escancarada na maioria das urnas, de modo que todos os fiscais poderiam ver os votos. Finalmente criticamos a proibição de sair do auditório durante a plenária de votação da nova diretoria. Durante toda a tarde ninguém poderia sair nem entrar no ginásio, por quê?
O grupo, depois de muito discutir sobre tudo que rolou para e no 50º Congresso, apresenta agora alguns pontos que esperamos que sejam considerados nos próximos conunes.
1. Alojamentos por estado, e não por força política, propiciando o debate no dia-a-dia do congresso e facilitando a articulação de estudantes de uma mesma região;
2. As mesas devem ser compostas por um numero mínimo de integrantes do movimento estudantil, garantindo o direito à fala desses movimentos;
3. Os grupos de discussão devem ser prioridades no congresso, e não as campanhas eleitorais das forças participantes;
4. Os atos, passeatas e afins devem ser bem pensados, pautando movimento estudantil dentro de seu real contexto político, e não referente apenas a particularidades econômicas;
5. Urna eletrônica;
6. Deve-se, ao final do congresso, enviar uma carta da UNE demarcando a posição política dos estudantes deliberada ao MEC, Fazenda e demais instâncias.
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