sábado, 15 de novembro de 2008

Democratização do acesso


“Mas peraí, eu já estou na UnB, porque eu deveria discutir acesso?”

Esta é uma resposta muito comum quando alguém propõe este debate, ela pode vir de maneira clara e consciente ou mesmo de maneira inconsciente, por meio do mais puro desinteresse.

Mas afinal de contas, pra quê discutir o acesso à universidade?

Poderíamos dizer aqui coisas óbvias como: “um dia seu filho vai passar pelo aperto do vestibular”, ou outras expressões que não ajudariam nem um pouco a politizar o debate.

A questão é mais profunda, e envolve mais pessoas do que aquelas ligadas diretamente à universidade e à administração da educação, envolve toda a população e o desenvolvimento técnico, acadêmico e social do país. Este é um debate sem o qual é impossível construir uma sociedade minimamente democrática.

Nos últimos tempos, ações do governo federal que visam a ampliação do acesso ao ensino superior, como o Reuni (Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) suscitaram nos movimentos a questão: “Afinal de contas, basta apenas aumentar vagas ou precisamos de outros mecanismos de democratização do acesso?”

Algumas universidades possuem sistemas de reserva de vagas dos mais variados tipos: - reserva de vagas para estudantes negros, para indígenas, bônus de notas no vestibular para os estudantes oriundos de escolas públicas da região, etc.

Porém a discussão e as soluções não devem ocorrer apenas no âmbito local, e vários movimentos sociais historicamente reivindicam que sejam criados programas nacionais de democratização do acesso às universidades públicas, tais como: - reserva de vagas de 50% por curso e por turno para estudantes oriundos de escolas públicas, como prevê projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional, - reserva de vagas para estudantes negros com percentual de acordo com o censo local (por exemplo: uma localidade que possua 30% de negros na sua população teria 30% de reserva de vagas para negros), fim do vestibular com a implementação de outras maneiras de acesso, e até mesmo a criação de cursos universitários especiais para integrantes de movimentos sociais e para professores do ensino básico.

Além de concordar com as propostas apresentadas no parágrafo anterior, o autor deste texto também se questiona (e conseqüentemente questiona o leitor): será que democratização do acesso significa apenas permitir que mais pessoas (e de grupos normalmente excluídos) se matriculem na universidade, ou precisamos discutir questões mais espinhosas, como por exemplo: Qual abertura que a universidade oferece ao conjunto da sociedade, em seu conteúdo acadêmico, em usa extensão, ou mesmo em sua vivência sócio-cultural?

O quão fechadas as portas da universidade estão, observando todos os aspectos que esta pergunta pode significar? Porque muitos de nós que aqui estamos hoje tememos tanto e ficamos lutando para que não haja “muita gente se formando, porque vai inflacionar o mercado de trabalho”? O quão egoísta tem sido a atuação de muitos estudantes de uma universidade bancada com dinheiro pertencente à toda a sociedade? 

 

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