sábado, 8 de novembro de 2008

A desinstitucionalização da família e da escola: pelo fim da família e da escola!



Quando pensamos nas estruturas deficientes que temos hoje pensamos sempre na sua reforma: “A escola está ruim, então como faremos para melhorá-la?” A família passa por constantes mudanças, assim, dependendo da opção religiosa ou ideológica se pensa nessas mudanças como absurdas ou como fundamentais. Porém, já paramos para pensar se essas instituições ‘Família’ e ‘Escola’ precisam mesmo existir? Que tal simplesmente acabarmos com a família? Ou então, que destrocemos logo com as escolas?

Tem gente pensando nisso, em uma primeira impressão podemos pensar em duas vertentes.
Naquela que acredita que essas instituições estão fadadas ao fracasso, pois a sociedade está se tornando tão individualista que os espaços de socialização da cultura devem ser acabados. Cada um vai aprendendo por conta própria, os pais já são distantes mesmo, a escola já não ensina a realidade, então deixemos que o mercado regule as deficiências naturalmente a partir da necessidade de cada um.
A outra vertente tem um pensamento que discorda da existência de tais instituições não porque elas passam por crises, mas porque discordam da conceituação atual dessas instituições “como sendo fundamentais porque garantem a estabilidade social e preparam atores adaptados à sociedade”. Defendem uma maneira de ver os valores e normas a partir das "co-produções sociais" (WAUTIER, 2003 Citando Dubet, 1994).

Será a partir dessa segunda perspectiva que eu vou tentar argumentar.

Uma análise sobre a família que Elisabeth Bilac coloca é que “ocorrem profundas transformações nas dinâmicas e arranjos familiares, podendo se observar muito mais a crise prolongada e incompleta de determinado modelo – hierárquico, patriarcal, com dominação do mundo adulto – do que o enfraquecimento da dinâmica e arranjos familiares. Por outro lado, os novos modelos viriam a família organizada não a partir de normas dadas, mas sim como fruto de negociações e acordos entre seus membros e, nesse sentido, sua duração no tempo dependeria da duração dos acordos”. E ela ainda pergunta ao final: “A destruição do modelo familiar tradicional significa, de fato, a desinstitucionalização da reprodução?” (SPOSITO, 2005 citando BILAC , 1995)

Outra colocação interessante que Sérvulo Figueira faz que no Brasil “o moderno coexiste muitas vezes, de modo angustiante e paradoxal, com o arcaico” (SPOSITO, 2005 citando Figueira, 1986). Por isso, muitas vezes é preciso ficar atento que aquilo que parece uma reforma moderna, é um paliativo para retomar concepções conservadoras da instituição.

Para Dubet, a desinstitucionalização significa crise e mutação de uma modalidade de ação institucional consagrada pela modernidade. Por isso, considera que parte do papel da escola está em mutação, sendo atribuído ao próprio sujeito alguns desses papéis, que “o obriga a se constituir livremente a partir das experiências sociais que lhe são impostas”. Porém, ele não será totalmente livre, uma vez que lhe é imposto ser mestre de seus interesses, seus projetos não poderão ser realizados pela conjuntura. Assim, a “culpa” será sempre do próprio indivíduo.

O que não significa que se deva abandonar a idéia de desinstitucionalização porque o modelo de integração social ainda faz da experiência individual relações de desigualdade e sofrimento, até porque os indivíduos procuram construir a individualidade através das identidades coletivas. Assim, é preciso investigar quais seriam as novas formas, provavelmente já existente de agenciamentos socializadores fora das instituições tradicionais de família e escola. (WAUTIER, 2003 Citando Dubet, 1994).

Para mim, considero que as famílias assim como as escolas têm um papel estabelecido de socializar a tradição acumulada da sociedade, ou seja, de reprodução. Lutar para que essas instituições sejam espaços de transformação, faz parte da luta diária dos que são otimistas, que é o meu caso. Porém, utopicamente temos que pensar uma forma de demolição dessas estruturas e não só de reforma, para assim mudar uma perspectiva que parece já dada.

Digitando a palavra “família” no Google percebe-se rapidamente o quanto essa instituição ainda está ligado à outra: a religião. Família hoje representa o núcleo primeiro da sociedade, onde os valores são passados. Esse papel privado de manter o público conservador tem uma fórmula perfeita, ou seja, difícil de ser modificado. Por isso, pensando no fim dessa estrutura surgem alguns questionamentos: “Como seria se todas as instituições tivessem seu caráter privado e público, juntos e claros?” E imagine propriamente na instituição familiar, onde todos pudessem opinar na educação dos filhos dos outros, e que isso fosse tratado como uma questão da sociedade, porém sem perder os laços de afeto.


Seguindo essa mesma linha de pensamento pode se analisar a escola. Hoje quem executa a mediação da socialização da cultura na escola são ainda os professores e não toda a sociedade. A escola é um paradoxo de realidade e irrealidade. A socialização deveria se dar a partir de questões reais, onde todos os indivíduos fossem sujeitos diretos dessa socialização, a partir da afinidade individual pensando no global real, assim o espaço físico não seria só um, mas vários; por exemplo, focando a questão do trabalho que não é abordada na escola como deveria. Pensando bem, o que educa mais o jovem? É ele se organizar para realizar algo que almeja, ou simular situações se unindo forçadamente com um grupo num assunto aleatório?

São questões de longe a serem fechadas, tampouco distantes de serem concretizadas (pela problematização na atualidade), porém precisam ser discutidas e colocadas como uma outra posição acerca da escola e da família, assuntos esses tão “santificados” pela sociedade.
Mônica Padilha é estudante de Pedagogia e integrante do Coletivo Reconstruindo o Cotidiano.

Referência Bibliográfica:

SPOSITO, Marilia Pontes. Indagações sobre as relações entre juventude e escola no Brasil: institucionalização tradicional e novos significados. JOVENes - Revista de Estudios sobre Juventud, ano 9, núm. 22 (p.p 201-227). México, 2005.
WAUTIER, Anne Marie. Para uma Sociologia da Experiência. Uma leitura contemporânea: François Dubet. Sociologias, Porto Alegre, n. 9, 2003.

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